Sustos
Para Edwin Morgan
é como ter uma lanterna entre os dentes
a procura de roedores
no escuro do armário
e se emocionar com a fidelidade de um par de botas
mastigando o cascalho
do quintal de uma amante
o choro característico
de um cãozinho com vermes
no ruído que reproduzem as faxineiras
quando limpam a vidraça
é como adormecer sob o sol na praia
e despertar enxergando tudo acastanhado
as pessoas inclusive
que se cansaram da vida mineira das fotografias
desceram de seus carneiros tingidos
e romperam o vidro do monóculo
é como os impiedosos saguões de cinemas
recepcionam nossas vistas vespertinas
após Kurosawa e seus chinelos de madeira
porque a neve começou a cair
e o final de um poema
dilui nossos sustos
Sérgio Mello
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