Saturday, March 31, 2007

CAMBIO DE DIRECCIÓN

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Monday, March 26, 2007

Nirvana - Heart-Shaped Box

"Heart-Shaped Box" was first performed live on January 16, 1993, in São Paulo, Brazil. According to the 2001 Cobain biography Heavier Than Heaven by Charles R. Cross, Love courted Cobain by sending a small heart-shaped box to his hotel room while he was on tour. After their marriage in 1992, Cobain adopted Love's hobby, and the couple eventually accumulated a large collection of heart-shaped boxes, which lined the shelves of their many homes. According to Heavier Than Heaven, the original heart-shaped box remained in Love's possession after Cobain's death in April 1994, and contains Cobain's suicide note and a lock of his hair.
It's worth noting that the lyrics of "Heart-Shaped Box" contain references to Cobain's and Love's respective astrological signs, Pisces and Cancer.

(Fonte:Wikipédia)

Sunday, March 11, 2007



Sustos

Para Edwin Morgan

é como ter uma lanterna entre os dentes
a procura de roedores
no escuro do armário
e se emocionar com a fidelidade de um par de botas
mastigando o cascalho
do quintal de uma amante
o choro característico
de um cãozinho com vermes
no ruído que reproduzem as faxineiras
quando limpam a vidraça
é como adormecer sob o sol na praia
e despertar enxergando tudo acastanhado
as pessoas inclusive
que se cansaram da vida mineira das fotografias
desceram de seus carneiros tingidos
e romperam o vidro do monóculo
é como os impiedosos saguões de cinemas
recepcionam nossas vistas vespertinas
após Kurosawa e seus chinelos de madeira
porque a neve começou a cair
e o final de um poema
dilui nossos sustos

Sérgio Mello

Thursday, March 08, 2007

Claude Monet


Ausência

Minha sombra –
acordei com o vento rodopiando nas cortinas leves e escuras
e os pássaros cantando nos telhados, estou deitado com frio
na luz matinal do meu quarto sobre Londres.
Que medo foi este que fez o vento soar como o fogo
de forma que adormecido levantei e olhei para fora
as filas calmas das luzes das ruas evanescendo ao longe?
Sem fogo
Só o vento soprava.
Mas no sonho que me acordou, você
veio correndo através do tráfego, me puxando, agarrando
meu cotovelo, seus olhos falaram
o que não pude alcançar –
Nada, se você estivesse aqui!

O vento da quieta madrugada
Funde-se agora calmamente com a engrenagem de mil rodas
As luzes se foram, atmosfera é sonora.
É um dia ordinário de Janeiro.
Minha sombra, você está por perto?
Você escuta o tráfego? Você segue meus passos?
E joguei as cobertas desperto.

Absence

My shadow –
I woke to a wind swirling the curtains light and dark
and the birds twittering on the roofs, I lay cold
in the early light in my room high over London.
What fear was it that made the wind sound like a fire
so that I got up and looked out half-asleep
at the calm rows of street-lights fading far below?
Without fire
only the wind blew.
But in the dream I woke from, you
came running through the traffic, tugging me, clinging
to my elbow, your eyes spoke
what I could not grasp –
Nothing, if you were here!

The wind of early quiet
merges slowly now with a thousand rolling wheels.
The light are out, the air is loud.
It is an ordinary January day.
My shadow, do you hear the streets?
Are you at my heels? Are you here?
And I throw back the sheets.


EDWIN MORGAN

Tradução: Virna Teixeira

(Em: Na Estação Central, editora UnB, 2006)

Friday, March 02, 2007

Monday, February 26, 2007



O URSO PESADO QUE ANDA COMIGO

"the withness of the body" -- Whiteread

O urso pesado que anda comigo,
Um mel variegado para lambuzar a sua face,
Desajeitado e arrastando-se aqui e ali,
A tonelada central de toda parte,
O faminto espancador e bruto
Apaixonado por doce, raiva e sono
Faz-tudo louco, desordenando tudo,
Sobe o edifício, chuta a bola de futebol
Luta com seu irmão na cidade odienta.

Respirando ao meu lado, aquele animal pesado
Aquele urso pesado que dorme comigo
Uiva no seu sono por um mundo de açúcar
Uma doçura íntima como um abraço de água,
Uiva no seu sono porque a corda-bamba
Treme e mostra a escuridão por baixo
O exibido vaidoso está apavorado.
vestido no seu smoking, a salientar suas cuecas,
Estremece de pensar que sua carne trêmula
Deve finalmente retrair para o nada.

Aquele animal inescapável caminha comigo
Me seguiu desde o negro útero contido,
Mexe-se onde eu mexo, distorcendo meu gesto,
Uma caricatura, uma sombra inchada
Um palhaço imbecil do motivo do espírito
Confunde e afronta sua própria escuridão,
A vida secreta da barriga e osso
Opaco, tão próximo, meu íntimo, embora desconhecido
Estica-se para abraçar a muito querida
Com quem sem ele por perto eu estaria,
Toca ela rudemente, embora uma palavra
Exporia meu coração e me esclareceria,
Tropeça, atrapalha, e esforça-se para ser nutrido
Arrastando-me com ele no seu cuidadoso segredar
Entre os cem milhões do seu tipo,
O tumulto do apetite em todo lugar.

The heavy bear who goes with me, / A manifold honey to smear his face, / Clumsy and lumbering here and there, / The central ton of every place, / The hungry beating brutish one / In love with candy, anger, and sleep, / Crazy factotum, disheveling all, / Climbs the building, kicks the football, / Boxes his brother in the hate-ridden city. // Breathing at my side, that heavy animal, / That heavy bear who sleeps with me, / Howls in his sleep for a world of sugar, / A sweetness intimate as the water's clasp, / Howls in his sleep because the tight-rope / Trembles and shows the darkness beneath. / --The strutting show-off is terrified, / Dressed in his dress-suit, bulging his pants, / Trembles to think that his quivering meat / Must finally wince to nothing at all. // That inescapable animal walks with me, / Has followed me since the black womb held, / Moves where I move, distorting my gesture, / A caricature, a swollen shadow, / A stupid clown of the spirit's motive, / Perplexes and affronts with his own darkness, / The secret life of belly and bone, / Opaque, too near, my private, yet unknown, / Stretches to embrace the very dear / With whom I would walk without him near, / Touches her grossly, although a word / Would bare my heart and make me clear, / Stumbles, flounders, and strives to be fed / Dragging me with him in his mouthing care, / Amid the hundred million of his kind, / the scrimmage of appetite everywhere.


DELMORE SCHWARTZ

Tradução: Virna Teixeira

Friday, September 01, 2006



En el sueño era un antiguo ford descontrolado

en una ciudad extranjera

en dirección al mar

un puente partido, colisión del cuerpo y el metal contra el agua

instinto de nadar hasta la orilla

trámite y pérdida, tránsito

de plutón retrógrado

(agotamiento)


& tener que consolar el luto, ahogar la pena de regreso

subir otra vez al mismo puente

recomenzar en el mismo punto

después de los destrozos



no sonho era um ford antigo desgovernado

em uma cidade estrangeira

na direção do mar

uma ponte partida, colisão de corpo e metal na água

instinto de nadar até a margem

trâmite & perda, trânsito

de plutão retrógrado

(esgotamento)


& ter que consolar o luto, afogar a mágoa em recuo

subir outra vez a mesma ponte

recomeçar no mesmo ponto

após os destroços



VIRNA TEIXEIRA

Versão para o espanhol: Jair Cortès



A ÚLTIMA CEIA

Com vinho vermelho da tarde brindamos

e comemos queijo (o emental) entre risos e abraços.

Um telhado alto: amplas janelas deixavam ver o côncavo azul do mar/céu.


Quando o jantar estava pronto, sentamos: louça reluzente (mais de três

talheres sempre me deixam nervoso, Senhor). Éramos treze sem contar a

criadagem. Vegetais no vapor, um molho a base de vinagre e pimentão estilo


California, cordeiro no centro do prato (alquimia na cozinha, sacrifício e

elogio para os comensais desse dia).

Eu olhava extensas planicies nos teus olhos, pássaros de luz alçando o vôo,


quando, depois do brinde, ofereceste em voz ALTA tua casa como quem oferece

sua morte. Te imaginei subindo a escaleira metálica por onde ascendem


os que se vão sem aviso.

Depois, conquistar a confiança, a garça do braço direito sustentando a taça.

Se foram vendo, uma por uma, as horas,

(o Traidor era o tempo).

Soube que não voltaria a ti nunca mais. Trinitária solidão a minha: sem ti,


sem mim, sem nós dois.

Cheguei até a varanda e descobri o mar cantábrico para mim: um dois três,


me diziam as ondas, um dois três, disse Cristo, SALVAÇÃO! para todos os meus

amigos e para mim também.



LA ÚLTIMA CENA

Con el rojo vino de la tarde brindamos

y comimos queso (el emental) entre risas y abrazos.

Un techo alto: grandes ventanas dejaban ver el cóncavo azul del mar/cielo.

Una vez que la cena estuvo lista, nos sentamos: reluciente vajilla (más de tres

cubiertos siempre me han puesto nervioso, Señor). Éramos trece sin contar a la

servidumbre. Vegetales al vapor, un aderezo a base de vinagre y pimiento estilo

California, cordero al centro del plato (alquimia en la cocina, sacrificio y elogio

para los comensales de ese día).

Yo miraba extensas planicies en tus ojos, parvada de luz alzando el vuelo, cuando,

después del tintineo, ofreciste en voz ALTA tu casa como quien ofrece su muerte.

Te imaginé subiendo la escala metálica por donde ascienden los que se marchan

sin aviso.

Después, entrar en confianza, la garza del brazo derecho sosteniendo la copa.

Se fueron yendo, una por una, las horas,

(el Traidor era el tiempo).

Supe que no volvería a ti nunca más. Trinitaria soledad la mía: sin ti, sin mí, sin

nosotros dos.

Llegué hasta el balcón y descubrí que el mar cantábrico para mí: un dos tres,

me decían las olas, un dos tres, dijo Cristo, ¡SALVACIÓN! para todos mis amigos

y para mí también.



JAIR CORTÈS

Versão para o português: Virna Teixeira