Thursday, November 24, 2005


BOB DYLAN POR CELSO BOAVENTURA


Escolher um disco de Bob Dylan para falar, confesso, não é uma tarefa fácil. Este incrível cantor e compositor americano realizou , pelo menos, 11 discos antológicos (The Freewheelin' Bob Dylan, de 63; The Times They Are A-Changin',de 64; Bringing It All Back Home e Highway 61 Revisited, de 65; Blonde On Blonde, de 66; John Wesley Harding, de 67; Nashville Skyline, de 69; Desire e Hard Rain, de 76; Oh, Mercy, de 89, além do duplo Live 66, de 98), clássicos que devem constar de qualquer discoteca básica, seja de rock'n'roll, folk, blues, ou mesmo música popular, uma vez que as canções de Dylan transcendem rótulos, não se adequando a classificações pré-estabelecidadas ou estereótipos tão caros à imprensa especializada. É claro que eu, que não sou tolo, nem imprensa especializada, não me atreverei a rotular Bob Dylan, a não ser como gênio. Brilhante, seja como letrista, seja como músico, Dylan é uma mestre na arte de cantar a vida do homem comum, e faz de fatos muitas vezes triviais, músicas que ficam na nossa memória permanentemente, como é o caso de uma das minhas favoritas desse álbum, Ballad of a Thin Man. A escolha deste álbum foi por ele conter 6 das minhas músicas favoritas. Ora, num disco de 9 músicas, isso é extraordinário. E olha que, no mesmo ano, 1965, ele havia lançado Bringing It All Back Home, que trazia nada mais que It's All Over Now, Baby Blue, uma de suas mais belas músicas, da qual o Echo & The Bunnymen fez uma cover tão linda quanto rara, e o irregular Caetano Veloso nos brindou com uma das mais perfeitas traduções de uma canção para o português com o título de Negro Amor, na voz de Gal Costa, no disco Caras e Bocas, de 1977. Mas Highway 61 Revisited é absolutamente perfeito. Abre de cara com Like a Rolling Stone, que dispensa comentários. E emenda, sem perdão, com Tombstone Blues, para você não ter dúvidas de que está ouvindo um ícone, um semi-deus da música. Um pouco depois, chega a já citada, e belíssima, Ballad of a Thin Man, com seu refrão quase marcial: Because something is happening here/But you don't know what it is/Do you, Mister Jones?. Mas não acabou. Você já está sem fôlego, já tomou todo o seu Whisky, já chorou as suas mágoas, já rezou para que Dylan viva eternamente, e ele dispara Queen Jane Approximately, Highway 61 Revisited e, quando você acha que estar vivo valeu a pena e o mundo pode acabar, você ouve uma voz rouca, um violão com cordas de aço, uma harmônica, e uma canção que diz: All these people that you mention/Yes, I know them, they're quite lame/I had to rearrange their faces/And give them all another name/Right now I can't read too good/Don't send me no more letters no/Not unless you mail them/From Desolation Row. E você pode descansar em paz.
O Celso Boaventura publica seus poemas no Cárcere das Asas. E às sextas, revisita álbuns interessantes.

3 Comments:

Anonymous Anonymous said...

É um prazer excessivo desfrutar da companhia de vocês. Estou sempre à disposição.

Saudações

12:57 PM  
Blogger virna said...

igualmente. obrigada pela colaboração.
saludos

4:03 PM  
Blogger Jair Cortés said...

celso: muito obrigado de estar en el mismo barco de excesos.

9:03 PM  

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